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segunda-feira, 13 de junho de 2011

Deus ou Não Deus? Essa é realmente a questão?


Vivemos em uma época curiosa.

Mais do que nunca, o mundo parece retornar às suas origens tribais de isolamento e separação ao mesmo tempo em que é difundida uma mensagem de integração e acolhimento das diferenças.

"Eu sou eu e não consigo entender os outros. Por isso, eles são coisas que devo destruir e matar."

Por mais que pessoas homoafetivas, de raças minoritárias, com limitações mentais ou físicas tenham cada vez mais a proteção legal e doutrinária de que tais diferenças não excluem jamais sua condição humana, da mesma forma, mais intensa é a discriminação oriunda de fontes diversas.

Isso não acontece apenas em casos relacionados à escolha sexual ou à aparência de outro ser humano.

Ultimamente, venho sido abordado por vídeos, livros e e-mails relacionados visando me "converter". Porém, ao contrário do que eu mesmo esperava, tais tentativas de conversão não são oriundas de igrejas, templos, mosteiros ou qualquer entidade religiosa. Pelo contrário, hoje, em pleno século XXI, que se utiliza da estratégia tão comum aos grupos religiosos são os ateus.

Sua tentativa de conversão, contudo, me assusta e ofende. Acredito em um Deus, à minha maneira, mas sei muito bem que posso estar enganado e tudo pode não ser sequer uma egrégora, mas apenas um sonho coletivo sem significado ou real presença. Respeito e procuro compreender a linha de pensamento dos ateus, como também de todas as demais pessoas, independente de concordar com as mesmas ou não.

Porém, me deixa estarrecido o material de conversão que recebo atualmente, com palavras fortes e muitas vezes de baixo calão, fazendo escárnio dos textos e das pessoas que os entendem sagrados. A sensação que me acomete é de que presencio uma violência semelhante à que gerou a Cruzadas entre cristãos e sarracenos, ou que gerou o holocausto, ressalvadas as devidas proporções.

Pessoalmente odeio vídeos e quaisquer outras propostas de conversão, seja de religiosos ou ateus, simplesmente porque ambos demonstram completa ignorância sobre a linha de pensamento daqueles que desejam converter.

Se você olha para uma fórmula matemática ou para um texto estrangeiro sem conhecer seus símbolos, significados e contextos, você é incapaz de compreender o que a fórmula matemática traduz ou o que o texto significa. O mesmo acontece quando alguém lê um texto em sua língua sem compreender os símbolos e arquétipos sobre os quais ele se fundamenta.

Daí ocorre o que é comum à raça humana quando não compreende algo: ela procura rejeitá-lo e a odiá-lo.

Muitas perguntas feitas por ateus podem ser respondidas facilmente por um "religioso" verdadeiramente racional, que sabe entender o que são textos símbolicos, os que inclusivem são fatos (como o dilúvio judaico-cristão, que inclusive aparece no texto sagrado e poema épico dos sumérios de Gilgamesh e que cada vez mais parece ser confirmado - não como um dilúvio mundial, mas um absurdo tsunami naquela região, derivado de um deslizamento de um ilha vulcânica -), e o que realmente é algo decorrente de um contexto, mais semelhante a um lei de direito cabível para a organização de uma sociedade em determinada época e local, que era simplesmente lastreada na "pessoa" de um Deus, para fundamentar seu poder temporal e vinculá-lo a uma espécie de poder espiritual.

Ser um religioso (cristão, judeu, mulçumano, budista, xiita, neo-pagão, etc), um ateu ou agnóstico "inteligente" ou "racional" não é ser tolo e acreditar em bobagens, mas sim procurar a essência das sabedorias das tradições do mundo e manter a mente aberta para as possibilidades e impossibilidades. Afinal, que ignorante de outrora acreditaria que a Terra era redonda, ou que poderiam existir mais do que quatro dimensões? O ódio e o escárnio, juntamente com o preconceito e falta de respeito, tornam as pessoas cegas, como a história já comprovou.

Ademais, como o próprio Shakespeare um dia disse pela voz de Hamlet para seu amigo Horácio: "There are more things in heaven and earth, Horatio, than are dreamt of in your philosophy." (Hamlet, I.5)

Vivemos em um mistério, mas nossas opiniões sobre ele jamais devem ser motivo suficiente para que não possamos todos viver em paz, como espécie e como irmãos de caminhada por esta estrada desconhecida e sem muita luz.

R.