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quinta-feira, 8 de julho de 2010

Era uma vez um garoto...


Ele era... era... Como ele era mesmo?

Eu lembro que ele sorria, muitas vezes, pra si mesmo.. Lembro que ele vivia em um mundo diferente de todos os demais..

Atrás de cada porta, havia uma dimensão secreta cheia de mistérios e armadilhas.. No meio de cada fresta em meio às árvores, existia uma entrada para o paraíso..

Quando ele andava, sua mente via nas pessoas magos, guerreiros, vilões, heróis, monstros e princesas...

Ele sabia que existia muita gente à sua volta, e adorava estar no meio delas. Na turma, nos assuntos, no meio da multidão.

Mas, com o passar do tempo, ele percebia que sempre se sentira só.. Se sentira como se fosse um estrangeiro em terras desconhecidas.

Alguns o chamavam de "único" ou "especial", e ele mesmo acabou se convencendo de que era assim.

E sendo único, ninguém nunca acreditaria, ou conseguiria imaginar, no que ele vivia todo o dia. De que adiantaria ver a maravilha, se não haveria ninguém com quem dividir?

Então, as dimensões secretas, os fantasmas, fadas e doendes, os heróis e os dragões, pararam de conviver junto daqueles que eram tão somente comuns... normais... banais...

As portas de madeira e ferro continuaram se abrindo. Mas os novos mundos não mais se revelavam...

As clareiras escondidas ainda estavam lá: belas, incríveis... Mas ele não conseguia mais encontrar as entradas do paraíso...

Porque, depois de tanto tempo, ele também escolhera fechar seus olhos.

Cego, tropeçou muitas vezes, se envergonhou diante de seus tombos e escorregões. E até mesmo aqueles que eram seus amigos, riram e lhe usaram como motivo de chacota e exemplo do que não se deveria ser.

O garoto, porém, era adaptável. Com um pouco de prática, ele também aprendeu como caminhar na escuridão como os demais. As trevas o abraçaram, e ele se sentiu seguro no lugar onde não haviam novidades, não haviam supresas, não havia nada que não pudesse ser explicado de olhos fechados, que não pudesse ser algo além do que era revelado no breu.

Contudo, as fadas, os heróis, os monstros e os seres que foram abandonados na luz quando o garoto partiu, também se sentiram sós. Haviam perdido aquele que lhes dava vida, amor, poder e fé.

E, desejando com a mais profunda força em seus corações, eles começaram uma verdadeira empreitada para abrir os olhos do garoto.

Sacis começaram a fazer pegadas em seu caminho, para confundí-lo. Elfos cantaram e os silfos balançaram as copas das árvores com seus ventos, derrubando suas folhas, enquanto o garoto andava pelas ruas. Entretanto, ele já não mais conseguia ver as pegadas ou sentir o vento tocar sua face e ouvidos.

A luz parecia estar perdida.

Foi então que um anjo de pequenas asas, tímido e calado, teve um idéia: Se a luz de fora não conseguia mais entrar nos olhos fechados do garoto, ela deveria nascer de dentro dele, de um jeito que não houvesse forma de seus olhos serem bloqueados por nada mais...

U.

Um comentário:

  1. Anjos...sejam eles protetores, figurados, em imagens ou simplesmente tímido e de pequenas asas trazem sempre a luz que precisamos. Abraços

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